Testemunho de um momento histórico

E cá estou, vivendo um momento histórico. Nos livros, parecem fictícios, impossíveis, heroicos, inalcançáveis. Até que, de repente, sou testemunha de que eles existem. Confesso, não é tão ficcional como parece - é lugar real, em tempo corrente, com gente de carne, osso e coração. O heroísmo existe, sim, mas é difuso entre toda a gente, e o impossível, descubro, não é mais que um estado das coisas que sempre foram possíveis, mas que ainda não tinham tido vez.

Paris, 12 de dezembro de 2015. O dia em que o mundo disse que vai mudar e evitar um aquecimento global além dos 2°C, e, se possível, 1,5°C. Pode ser bom demais para ser verdade, com risco de se tornar letra morta, afinal, as ações comprometidas para chegar lá são insuficientes. Mas, o que vem primeiro, o caminho ou a visão? O acordo pode mudar rumos e pautar a direção em que nos desenvolvemos, e foi com esse propósito que o vi nascer nesse dia 12.

O clima era de festa, apesar da leitura cuidadosa de que esta é apenas a primeira montanha de muitas mais por escalar. Era também de alívio. A alternativa ao acordo era um desacordo, e depois de tantos fracassos negociando soluções para a ameaça mais global de todos os tempos, desacordar seria arruinar o multilateralismo. Para os livros de história, seria o dia em que o bicho homem descobriu que o diálogo por meio de Estados nacionais não funciona para construir um mundo melhor.

O clima era ainda de surpresa. Um acordo climático global, estruturante, ambicioso a ponto de ser arriscado, era tão desejado quanto desacreditado.

E, acima de tudo, o clima era de esperança. Esperança de que, quem sabe, todas as crises recentes, todas os desastres climáticos, as guerras acirradas por insegurança alimentar e hídrica, o desespero dos refugiados que jogaram suas vidas ao mar... quem sabe tudo isso serviu, enfim, para direcionar a humanidade para a Era da Madre Tierra. 

Nenhum comentário: