Meio Dia - por Verônica Sanchez


Meio dia ....
Saindo da minha casa ( Asa Sul),
Rumo à biblioteca da UnB, uma senhora de uns 40 anos, segurando a mão de um menininho pequeno, assim que entrei no meu carro, veio me perguntar ofegante onde ficava a Avenida W3.
Era logo ali, a uns 50 metros, pois estávamos nas quadras 300, e então eu perguntei o que ela estava procurando para saber se poderia ajudar. Ela me disse que tinham lhe falado que seguindo pela W3 ela chegaria a uma rodoviária.
Eu sabia que não era bem assim e que a Rodoviária estava um tanto longe e perguntei para onde ia. Naquela hora, pleno meio dia, um calor insuportável, ela já tinha caminhado bastante e ainda com uma criança pequena.
Como eu ia pra a UnB, lhe ofereci uma carona que ela logo aceitou com os olhos brilhando e me disse que já tinham caminhado muito naquele dia.
Entramos no carro, o menino atrás e ela comigo na frente, pedi para colocar o cinto de segurança e ela não me entendeu, acho que ela nunca tinha andado de carro, ou pelo menos com cinto de segurança.
Saímos rumo a Rodoviária e no caminho perguntei o nome do menininho, que se chama Washinton e tem 6 anos. Então ela me disse que tinha feito uma coisa muito errada! Ela tinha vindo para Brasília procurar a sua cunhada para pedir uma ajuda para o seu marido, mas ela veio sem telefonar antes, e quando chegou ao lugar, o porteiro lhe falou que a sua cunhada tinha viajado para uma tal de Guarapari porque a filha dela tinha ganhado neném.
Mas então ela com um sorriso me disse que estava tão feliz que nem pensou nisso e veio direto, sem pensar porque “quando a gente fica assim, nem pensa muito”.
Então me contou que estava feliz porque o marido, que estava desempregado há 4 anos, tinha arrumado uma indicação para um emprego de motorista mas que sua habilitação estava vencida e para renova-la tinha que ter: “umas fotinhas pequenininhas e coloridas, mais um monte de documentos originais e tinha que pagar uma taxa de 80 reais.
Ela já tinha ido ao Detran para saber o que era necessário e de lá a mandaram para uma clínica credenciada para fazer uns exames e só então, o marido poderia renovar a sua carteira e, com isso, a possibilidade de um emprego!
O problema era que eles só tinham conseguido 40 reais e já tinham suplicado para a moça da clinica, mas ela não tinha ajudado..... por isso ela tinha vindo a Brasília pedir uma ajuda a sua cunhada, que com certeza a ajudaria.
Agora, com a viajem perdida, sem a ajuda da cunhada e com o filho pequeno, mais perdidos do que tudo nessa cidade grande, sem conhecer nada e sem um tostão no bolso, ela se dirigia à Rodoviária pedir ao motorista do ônibus para Formosa-GO o favor de levá-los de volta pra casa, de graça.
Naqueles poucos minutos eu pude sentir como ela, cheia de esperança na possibilidade de um emprego para o marido, não tinha perdido o brilho no olhar, mesmo depois de ter perdido a viagem, de inúmeras dificuldades para vencer a burocracia de renovar uma habilitação, isso sem nenhum dinheiro, provavelmente sem ter comido ou bebido alguma coisa naquele dia e com um filhinho de 6 anos na mão!
Meu Deus!! Quanta adversidade para esta mulher de olhos bem azuis e cabelos claros, vindos da Paraíba há dois anos com destino a Formosa para tentar uma vida melhor.
Chegando na Rodoviária eu lhe expliquei como chegar na parte de baixo para pegar o ônibus e sai do carro para ajudar o Washinton a sair. Eu tinha 20 reais na carteira e dei a ela e ao ver o dinheiro ela, que já tinha me agradecido varias vezes a carona, me olhou com os olhos brilhando e me perguntou: moça você não vai precisar ? A Sra. Precisa deles muito mais do que eu, respondi.
Então ela pegou a minha mão e me beijou muito agradecida. Eu lhe desejei boa sorte pra ela e pro emprego do marido.
Saiu caminhando com o pequenino e desapareceu na multidão.
Eu entrei no carro e fiquei com o coração apertado após ver tanta dificuldade e pensar no pouco valor que damos para as coisas que temos. E me senti mal por não ter dado mais dinheiro ou oferecer um prato de comida....
Agora que penso, não sei nem o nom dela mas espero que consiga ajudar o marido e que tenha chegado bem em casa. Que Deus nos abençoe e que sejamos conscientes da nossa responsabilidade social!!!
Temos tanto a oferecer!! Só nos falta dar o primeiro passo!
Veronica Sanchez

Nenhum comentário: