O Erro Inicial

Um barco de refugiados vindos de Guiné Bissau à Espanha naufragou com 150 pessoas. Um terço resgatados. Os músculos enrijecidos por dez dias imóveis e a quantidade de roupa para proteger das baixas temperaturas em alto mar fizeram com que os corpos afundassem como um tijolo ao cair na água.
Apesar de tudo, esses tiveram sorte e viraram notícia. Muitos outros já afundaram sem poder ao menos despertar questionamentos.
Mas o mais impressionante é pensar no que não foi dito – o que leva as pessoas a embarcarem ? Desespero, esperança?
Quando chegam aqui, entram na categoria de seres humanos ilegais, se dedicam a vender coisas ilegais e se especializam em fugir da polícia.
Estendem o lençol coberto de Cds piratas e óculos falsificados. Nas quatro pontas, uma cordinha para puxar e levantar acampamento instantaneamente quando for detectado um policial nas proximidades.
Claro que ver isso tudo mexeu comigo. Sentia vontade de comprar qualquer coisa, algum troço, só para ajudar... Queria conversar com eles, entender esse mundo, enchergá-los de outro jeito.
Que ausência de humildade da minha parte!
Quando comecei a conversar, vi o sorriso e a alegria de viver em seus olhos.
De onde veio essa pena, essa sensação de superioridade por detrás do querer ajudar?
Nas primeiras palavras, me surpreendi com o “Sos muy guapa. Te quiero” Depois, a língua lambendo os lábios para me provar a sua virilidade.
De repente, me dei conta. Estou também caindo no pior do erros. Deixando de enchergá-los como seres humanos que querem viver e não estão dispostos a gastar a vida em tentar sobreviver...

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