Sexta-feira, 15 de março de 2019 foi um dia histórico. Mais de um milhão e 400mil jovens de 125 países fizeram greve, faltaram as aulas e protestaram contra as mudanças climáticas. A primeira geração forçada a imaginar um futuro de clima transformado, de secas e tempestades e ciclones cada vez mais fortes, frequentes e imprevisíveis, de costas e ilhas sumindo, de imigração em massa por razões climáticas, de extinção de espécies. A primeira geração afetada pela nossa forma de viver, consumir e produzir está entendendo a conta que vamos deixar e levanta a voz.
Minha filha tem só dois meses e ainda não descobriu que somos duas, e que ela vai encarar o mundo sozinha, um mundo diferente em muitos sentidos. Talvez, quando cresça um pouco, me pergunte o mesmo que os jovens de todo o mundo estão questionando - Como assim a ciência alertava há décadas que o caminho de desenvolvimento era, de fato, caminho ao precipício e, mesmo assim, tudo continuou igual? Por que as pessoas continuaram consumindo e votando e vivendo e decidindo como se não houvesse amanhã?
Eu posso ter mil respostas para ela - as coisas eram assim; havia muito negacionismo; a culpa era dos líderes globais; o mundo era feito de consumo descartável; a felicidade se media em emissões de gases de efeito estufa; não tínhamos ideia do tamanho do problema… Acho que nenhuma dessas respostas vai convencer e nem muito menos aliviar o problema. Nenhuma delas.
Os jovens que trocaram a sala de aula pelas ruas nesse 15 de março estão do lado certo da história. Não podem cobrar que paguemos a conta, porque é a natureza da coisas que não estaremos aqui quando eles sim, mas nem por isso calam. Muito pelo contrario, gritam. Muitos jornais cobriram a primeira greve infanto-juvenil da historia. Muita gente tweetou. Mas é preciso ir além de aplaudir, é preciso escutar o que dizem e saber que falam com cada um de nós, adultos, teoricamente responsáveis pelas principais decisões de hoje.
Nos chamaram na chincha e nossa resposta não pode ser só parar de consumir canudos de plástico e usar bolsa de tecido no supermercado. A transformação que precisamos para um futuro menos instável climaticamente é urgente e gigante. Mas pode ser bela, econômica e divertida também. É claro que as decisões mais importantes podem ser feitas por quem está na liderança de governos e empresas, mas nem governantes nem CEOs agem no vácuo. Cada um que produz, que consome, que opina, tem um dedo nesta história e pode agir também.
Algumas vezes já me perguntaram - o que dá para fazer? E há tempos queria escrever uma lista de ideias de pequenas transformações climáticas. Acho que não há melhor momento que este para compartilhar, então lá vai:
Cidadania climática
- Em época de eleições, votar em quem defende uma agenda climática proativa. Várias ONGs fazem levantamento das agendas dos candidatos em relação ao clima e no Brasil o Observatório do Clima é excelente fonte.
- Participar de petições online que demandam medidas de sustentabilidade e justiça socio-ambiental - Os sites change.org e https://secure.avaaz.org são bons lugares para começar.
- Doar regularmente dinheiro para organizações da sociedade civil que trabalham com causas climáticas nas quais você acredita. Eu, por exemplo, gosto muito do trabalho do Instituto Socioambiental (ISA) com povos indigenas (está comprovado que Terras Indígenas são chave na defesa das florestas), mas existem muitas organizações fazendo belos trabalhos no Brasil, desde grandes como Greenpeace e WWF, até menores, como OELA e campanhas espontâneas que surgem quando há desastres naturais.
Consumo consciente
- Reduzir o consumo de bens novos e priorizar a reutilização. Por exemplo, preferir brechós (aqui um que vende de forma virtual para todo Brasil) e reformar móveis usados.
- Escolher produtos feitos de maneira sustentável, como por exemplo com madeira certificada pelo selo FSC, produtos reciclados ou produzidos localmente. Na hora de comprar presentes, uma alternativa legal são artesanatos indígenas (veja a loja online TUCUM)
- Priorizar serviços que busquem um impacto ambiental positivo, como o buscador Ecosia, que planta 1 árvore para cada 45 pesquisas feitas, restaurantes que não usam descartáveis e empresas B, que são empresas que tem na sua missão objetivos econômicos, sociais e ambientais.
- Compensar emissões de viagens, eventos e hábito diários por meio de programas que restauram áreas de floresta degradadas, como por exemplo o Programa Carbono Neutro.
- Reduzir o consumo de carne e adotar uma dieta mais compatível com o clima. Este estudo mostra como.
Hábitos de consciência climática.
- Reciclar. Este site ajuda a entender o que, como e onde reciclar.
- Reduzir o consumo de energia elétrica, seja usando menos ar condicionado, trocando lâmpadas ou priorizando eletrodomésticos mais eficientes energeticamente. Este manual do SEBRAE traz algumas orientações úteis.
- Se locomover de bicicleta, caminhando e/ou transporte publico. E quando dirigir, buscar medidas de eficiência de combustível ao volante - veja neste guia dicas (em espanhol).
Conversas climática
- Falar sobre o assunto, ler e se informar constantemente.
- Promover projetos piloto no trabalho ou bairro, como instalação de painéis solares em escolas e hospitais e restauração de áreas degradadas.