Minha avó tem 98 anos. E hoje foi dia da visita de domingo.
Sentamos uma ao lado da outra, como de costume. Eu com os pés no sofá e os joelhos dobrados. Estava moleca. E falei sem parar.
Ela ouviu com o interesse de sempre. Mas hoje eu podia sentir uma respiração ofegante nos seus olhos. Ela estava cansada.
Em um momento de distração, dei uma brecha para o silencio. Ela aproveitou o espaço e desabafou - Há alguns dias está muito preocupada com a proximidade dos aniversários.Em um mês, completo anos eu, e 15 dias depois minha mãe. E ela ainda não sabe que presente comprar. Se estiver por aqui ainda, me disse, quer dar alguma coisa especial.
Que tempo tão curto para imaginar a morte. E tão largo para planejar um presente. Pensei.
A essas alturas já era hora de ir. O cansaço dela era evidente demais. E as coisas que eu ainda tinha para fazer também. Tentei tranquilizá-la prometendo ajuda com a compra dos presentes e em seguida me despedi:
“Já vou, vó. O dia hoje foi longo, né?”
Ela me olhou. Piscou. E me contestou:
“Os dias sempre tem o mesmo comprimento”.
2 comentários:
lindo, gostei mt do pensamento sobre planejamento.
segue escrevendo,
beijo
lindo, gostei mt do pensamento sobre planejamento.
segue escrevendo,
beijo
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