Das últimas férias, vou guardar uma memoria extraordinária. A memoria ‘do-dia-em-que’ vi o futuro climático pela primeira vez.
Era um
sábado de manhã. Eu tinha acabado de chegar para a visita anual à minha família e fazia
um dia lindo, como os mais de 90 dias antes da minha chegada, em que não caíram
nem duas gotas de chuva na Califórnia. O plano era fazer um programa especial –
piquenique, mergulho e pesca. Dirigimos mais de duas horas, confiantes de que o tempo de viagem seria diretamente proporcional à recompensa. Cantamos,
contamos casos, comemos cerejas e jogamos as sementes pela janela para plantar
nosso rastro. A uma certa altura, já não havia casas e campos de arroz à nossa
volta. A paisagem era verde e lembrava o acampamento do ano passado no Yosimite
- estávamos no caminho certo!
O lado de
fora magneticamente atraia meu olhar e eu já contava árvores ao invés de casos.
Por entre as copas, espiei um clarão e, mais ao fundo, uma cratera. Me dei conta
de que estávamos em um elevado e de que esta parte da California não era o parque
natural que imaginava. Ali, me contava a cena, também havia devastação. Achei estranho,
tão estranho como olhar pela janela de um teco teco que sobrevoa uma área de mineração
em plena Amazônia, mas não falei nada. Não queria estragar a fantasia que
conduzia nosso carro.
Dirigimos
outros 25 minutos em estrada de chão – nos perdemos, nos achamos,
desconfiamos do GPS e, finalmente, chegamos!
- “Vamos ter
que descer tudo isso com as comidas... vai ser difícil...”
- “É, acho
melhor deixar o piquenique aqui e comer quando voltarmos.”
Nosso carro não tinha chegado diretamente ao lago. Estávamos no alto, a mais de uma centena de degraus de areia do
espelho d’água. A cratera que espiei antes não era mineração, mas sim a
profundidade de uma barragem artificial que, com a seca de 4 anos, ficou exposta.
O lago não era natural e a dimensão da seca parece que também não.
Aquilo tudo era chocante demais. Para mim e para todos os outros, com exceção da crianças,
que subiram e desceram corajosamente o monte de areia como se fosse normal e nadaram
no lago como se fosse exatamante aquilo que estavam esperando. Para eles, um lago é isso, um buraco com um tantinho de água e montes de areia em volta.
Olhei à
minha volta e só havia minha família e três gatos pingados.
Era como um paraíso perdido. Ou seria um paraíso que se perdeu? Olhei mais e
mais à minha volta, como se quanto mais olhasse, com mais força registraria
aquela cena. Queria que ficasse gravada como "a-primeira -vez-em-que” vi o clima do futuro. Pedi aos meus
sobrinhos que olhassem também, mas eles não entenderam a tia esquisita. Olharam para mim como
quem diz que já sou de outra geração e continuaram correndo. Não sei se
guardaram alguma coisa deste dia, mas acho que não. Acho que
para eles vai ser mais um dia desses dias em
que tinham lagos para nadar na California.
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